O que são as moedas digitais de bancos centrais (CBDC) e como elas podem mudar a sua relação com o dinheiro
Se você ainda não investe em criptomoedas, pelo menos já deve ter ouvido falar em bitcoin, ethereum ou litecoin, alguns dos principais ativos desse tipo existentes no mercado financeiro global. Desde 2009, com o surgimento do bitcoin — hoje a principal criptomoeda do mundo —, dezenas de congêneres se estabeleceram como alternativas de investimento e, mais recentemente, como um novo meio de pagamento cada vez mais aceito no e-commerce.
O que talvez você não saiba é que diversos governos nacionais estão estudando entrar nessa seara, com a criação de suas moedas digitais de bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês). Em comum com as criptomoedas já existentes está o uso da tecnologia blockchain como base para sua operação. Mas as CBDC trazem uma grande novidade em relação ao que há hoje no mercado: elas terão uma autoridade constituída para “emitir” as novas moedas digitais e, portanto, garantir seu lastro.
Sendo assim, podemos afirmar que, na prática, as CBDC serão o equivalente digital do dinheiro que conhecemos hoje. E, já há alguns anos, sabemos que o dinheiro físico, em cédulas ou moedas, tende a desaparecer nas próximas décadas, por motivos de segurança, custo e eficiência.
Bacen estuda criar sua moeda digital; outros países estão mais adiantados
Em agosto de 2020, o Bacen (Banco Central do Brasil) anunciou a formação de um grupo de trabalho para analisar a criação de sua própria moeda digital. Segundo o órgão, o objetivo desse grupo de trabalho é discutir os possíveis impactos desse tipo de ativo e avaliar seus benefícios e riscos à sociedade, em especial nos quesitos segurança e proteção de dados.
Em diferentes ocasiões, o presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, reafirmou os planos. Em evento de lançamento do PIX, por exemplo, Neto afirmou que “o PIX é um pilar fundamental do sistema financeiro do futuro e culmina com o que chamamos de moeda digital”. Já em entrevista à Bloomberg TV, ele disse ser provável que a CBDC brasileira seja disponibilizada a partir de 2022.
O Brasil corre atrás de uma tendência global. De acordo com um estudo do Bank of International Settlements, 70% dos 63 bancos centrais entrevistados estudam a adoção de CBDCs, mesmo que a maioria ainda esteja, como nós, em fase inicial de estudos. Alguns países, porém, como a China e a Suécia, já estão fazendo testes com moedas digitais próprias e parecem estar mais próximos de torná-las uma realidade.
Vantagens da CBDC
Não é à toa que diversos bancos centrais estão avaliando a criação de suas CBDCs. Essa é uma grande oportunidade para que esses organismos, responsáveis pela política monetária de um país, possam atuar no mercado mais diretamente, sem a necessidade de bancos comerciais como intermediários.
Um exemplo fácil de se entender do potencial dessa ferramenta é a concessão de crédito. Em muitos momentos de desaquecimento da atividade econômica, os bancos comerciais são utilizados como ponte para aumentar a concessão de crédito para pessoas e empresas. No entanto, muitas vezes o dinheiro não chega à ponta como o desejado pelo banco central, o que poderia acontecer caso esse órgão tivesse controle maior sobre as operações. É aí que uma moeda digital própria pode fazer muita diferença.
De acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), organismo que busca estimular a cooperação monetária global, as CBDCs podem aprimorar as políticas públicas, incluindo a inclusão financeira, segurança/proteção ao consumidor e privacidade nos pagamentos.