Como e quando ensinar seu filho a lidar com dinheiro?
Uma pesquisa realizada com 1.100 brasileiros pelo Instituto Mindminers, em parceria com o Banco BV, e divulgada em setembro deste ano, aponta que 6 em cada 10 brasileiros associam suas questões financeiras a sentimentos negativos.
O fato de que ainda tratamos o dinheiro como um tabu na sociedade revela o quanto precisamos avançar na disseminação da educação financeira por todo o país. O Brasil ocupa, hoje, a posição 74ª no ranking global que mede a alfabetização da população mundial em educação financeira, de acordo com a pesquisa S&P Ratings Services Global Financial Literacy Survey, da Standard & Poor’s.
A grande maioria dos problemas que jovens adultos enfrentam está relacionada ao dinheiro. Muitos chegam à maioridade sem ter uma básica noção de gastos, sem saber como se planejar e são inseridos no mercado de trabalho sem preparo.
Isso nos mostra que, desde a infância, nós já devemos ter contato com o dinheiro. Não existe nenhuma contraindicação quanto a isso. Pelo contrário, o quanto antes melhor!
Ao longo do texto, vamos ver algumas estratégias que pais e educadores podem adotar para abordar esse assunto tão complicado com os pequenos, para que eles formem uma geração muito mais preparada na hora de organizar as finanças pessoais.
Crianças precisam saber sobre dinheiro porque já são consumidores
James U. McNeal foi o autor da primeira publicação que reconheceu as crianças como consumidores. O feito ocorreu em 1964, quando o professor emérito de Marketing da Texas A&M University passou a denominá-las como “compradores de caramelos de um centavo”. E as crianças buscam consumir tudo o que querem: de doces a brinquedos de plástico e até mesmo eletrônicos, como vemos hoje em dia.
Isso porque, segundo a consultoria McNeal, a partir dos dois meses de idade, os pequenos começam a ter suas primeiras impressões que apuram os cinco sentidos primários: olfato, paladar, visão, audição e tato. Embalagens coloridas, por exemplo, são alguns dos estímulos visuais mais recorrentes aos bebês.
Quando chegam aos dois anos, as crianças já pedem por algum produto da prateleira do supermercado ou querem algum brinquedo que o coleguinha da pré-escola tenha levado e mostrado aos demais. Nesta etapa, a educação financeira já pode ser inserida.
De que maneira ensino o meu filho?
O consumo vai ser estimulado aos pequenos queiramos ou não. Como falamos acima, as crianças já correspondem a apelos visuais e no dia a dia mesmo, com esses mesmos produtos, podem criar uma relação de aprendizado com o dinheiro.
Embora alguns pais prefiram deixar de levar os filhos às compras, mais importante seria levá-los para que ficassem de olho em tudo o que você precisa adquirir. Dar a eles algumas moedas durante a ida ao supermercado para que eles desenvolvam um senso de importância e confiança com o dinheiro pode ser um excelente ponto de partida.
Geralmente, nessa idade, as crianças pedem sempre por pequenas quantias de dinheiro para que comprem salgados e guloseimas que, para eles, sempre parecem “muito baratos” porque ainda não têm a noção do quanto a saída daquele valor representa no orçamento familiar.
Dê ao seu filho o primeiro cofrinho para que ele veja as moedas se acumularem e estabeleçam um objetivo mesmo tão inocente para investir a quantia que arrecadarem. As noções de preço ainda não são claras para os pequenos, mas os primeiros passos para guardar e chegar a um determinado valor pode ajudá-lo a ser mais responsável logo cedo.
À medida que crescem, algumas crianças começam a receber mesada dos pais. A delegação de uma quantia por um determinado período, entretanto, deve ser feita mediante o entendimento do filho de que aquele dinheiro precisa ser gasto com responsabilidade e que não pode acabar antes do cumprimento das metas que foram estabelecidas naquele espaço de tempo.
Outras táticas estimulam os pequenos a conseguir dinheiro por conta própria
Poupar deve ser o primeiro passo para criar um senso de responsabilidade financeira nos filhos, mas, se você se sentir à vontade, provoque neles também o desejo de ter uma renda extra.
Esse dinheirinho por fora não deve vir por tarefas que são responsabilidades das crianças dentro de casa, como as atividades básicas de lavar a louça após as refeições ou arrumar o próprio quarto, mas pode vir de outros exemplos.
Seu filho pode começar a se interessar pela confecção de acessórios, de doces não muito trabalhosos ou até mesmo pode assumir serviços que geralmente delegamos a terceiros.
Gastos com pet-shop, por exemplo, tendem a ser caros, especialmente porque não estão ligados diretamente aos custos da família. E se os cuidados com o seu pet estão além do que você previa, como um banho especial, por exemplo, por que não instruir o seu filho a receber um dinheiro para executar essa tarefa por um valor menor que o dispensado em uma loja?
Poupar, ganhar mais e investir
Nosso último item não precisa ser exclusivamente o terceiro passo, até porque pode ser feito de maneira simultânea às dicas anteriores, mas as crianças terão mais mentalidade para investimentos após conhecerem a importância da poupança e da renda extra.
Pais frequentemente buscam abrir conta em uma corretora e criam uma reserva para a criança onde poupam para a faculdade ou outros objetivos futuros. E não existe nenhum erro nisso. Mas os pais devem atentar-se também ao fato de que não devem somente separar o dinheiro e confiar no filho sem que ele tenha consciência do que aquilo de fato representa.
Eles precisam ser preparados para lidar com a sucessão, tanto do dinheiro que foi investido exclusivamente para eles, quanto para o que herdarão no futuro quando os pais falecerem.
Em vez de deixar uma grande previdência, pode ser mais útil para a criação dessa consciência financeira a gestão de uma conta conjunta. Pais e filhos podem depositar juntos os valores mensalmente, analisar em quais ativos de renda fixa e renda variável podem investir e diversificá-los e assim podem até mesmo desenvolver um novo nível de relação.