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Tarifaço dos EUA: O que o mercado já precifica?
O agravamento das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, com a imposição de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, elevou o nível de incerteza no cenário econômico e acendeu um alerta nos mercados. Embora os impactos do conflito comercial entre Brasil e EUA ainda pareçam localizados, seus reflexos já pressionam variáveis-chave como inflação, câmbio, curva de juros e percepção de risco. Neste artigo, explicamos por que esse episódio pode reconfigurar as decisões de investimento, o comportamento do Ibovespa, a política monetária e a atratividade dos ativos brasileiros nos próximos meses.
A leitura do Banco Central: o choque externo é inflacionário e duradouro
Na Ata da última reunião do Copom, o Banco Central deixou claro que o conflito comercial gera preocupações setoriais relevantes, com efeitos potenciais sobre inflação e crescimento. Por isso, decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, indicando que a política monetária permanecerá contracionista por um período prolongado.
Esse posicionamento tem implicações diretas sobre o mercado de crédito e a curva de juros. Ao postergar a flexibilização, o BC alimenta o alongamento dos juros futuros, tornando o custo do capital mais elevado. Isso impacta especialmente empresas de médio porte, que dependem de soluções alternativas para financiar suas operações.
Dólar instável: o alívio é temporário
O real chegou a se fortalecer frente ao dólar logo após o anúncio das tarifas, impulsionado por expectativas de cortes nos juros norte-americanos. Contudo, essa valorização mostrou-se frágil. A ausência de avanços diplomáticos entre Brasil e EUA adiciona risco geopolítico persistente, o que reduz a atratividade do país para investimentos de longo prazo.
Se o dólar permanecer acima de R$ 5,50, os efeitos serão perceptíveis nas margens industriais, no custo de importações e, principalmente, na inflação projetada para 2026. Portanto, o câmbio se transforma, neste momento, em um vetor de pressão macroeconômica relevante.
Renda variável seletiva: Ibovespa ainda resistente, mas exposto
O Ibovespa tem mostrado resiliência técnica nos últimos pregões, sustentado por setores menos expostos à política comercial dos EUA. No entanto, a performance está claramente mais seletiva e defensiva. Setores como agronegócio, indústria de base, têxtil e aeronáutica (diretamente afetados pelas novas tarifas) estão sob forte pressão de margem.
Enquanto isso, empresas exportadoras ligadas a outros mercados (como minério de ferro, papel e celulose) tendem a reagir melhor. Ainda assim, a aversão ao risco sistêmico pode reduzir a liquidez do mercado como um todo e elevar o prêmio exigido para ativos brasileiros, principalmente os de maior duration.
Impactos do conflito comercial entre Brasil e EUA na credibilidade internacional
Mais do que os efeitos comerciais imediatos, os impactos do conflito comercial entre Brasil e EUA revelam um ponto de atenção relevante: os desafios institucionais e diplomáticos que o país enfrenta na coordenação de suas respostas estratégicas. O temor crescente é que o Brasil não consiga demonstrar a coerência necessária entre Executivo, Legislativo e Itamaraty, comprometendo sua capacidade de articulação em outras frentes estratégicas, como o acordo Mercosul-União Europeia.
Em um cenário global em que previsibilidade e estabilidade são pré-requisitos para atrair capital estrangeiro, a credibilidade institucional passa a ser um ativo determinante. Sua erosão afeta diretamente a percepção de risco, encarece o prêmio exigido pelos investidores e reduz o fluxo de capital de longo prazo para a economia brasileira.
Efeitos da disputa comercial Brasil-EUA sobre o cenário macro e os investimentos
Em resumo, o cenário atual exige atenção redobrada. Ainda que não estejamos diante de um choque recessivo imediato, o conflito com os EUA é corrosivo para variáveis-chave do equilíbrio macroeconômico:
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Inflação: tende a ficar mais pressionada nos próximos trimestres, inclusive via câmbio.
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Juro neutro: pode ser reavaliado para cima, postergando o ciclo de queda da Selic.
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Prêmio de risco: aumenta, exigindo maior seletividade e robustez nos ativos de crédito.
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Câmbio de equilíbrio: se ajusta para cima, exigindo reposicionamento nas alocações.
O mercado já começou a reprecificar essa nova realidade, mas ainda há assimetrias relevantes. A depender da evolução diplomática, cenários mais adversos ainda não podem ser descartados, a gestão ativa e criteriosa de risco será o diferencial entre proteger e comprometer valor nos portfólios.
Tempo de reposicionar, não de recuar
Na Ouro Preto Investimentos, acreditamos que momentos de incerteza exigem mais análise, e exposição estratégica. Para o investidor, o desafio não é apenas proteger capital, mas também identificar oportunidades que surjam da dissonância entre risco percebido e risco real.
Seguimos monitorando de perto a evolução do conflito comercial, os desdobramentos da política monetária e seus impactos sobre o crédito privado. O momento pede respostas técnicas, agilidade estratégica e rigor analítico, fundamentos que sustentam nossa atuação como gestora especializada em FIDCs e estruturas de crédito.
OURO PRETO INVESTIMENTOS – 15 ANOS DEMOCRATIZANDO O CRÉDITO BRASILEIRO
***Disclaimer:
Este artigo foi criado por Sidney Lima, analista de investimentos certificado APIMEC (CNPI nº 2652), com o objetivo de oferecer uma análise técnico-econômica sobre o cenário atual. As opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem, necessariamente, a posição institucional da Ouro Preto Investimentos. O conteúdo tem caráter informativo e não deve ser interpretado como recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros.









