Evergrande pode causar um crash? Confira as grandes quedas da história do mercado financeiro
No último dia 20 de setembro, a informação de que a chinesa Evergrande – uma das maiores incorporadoras imobiliárias do planeta – passava a oferecer risco de calote aos seus credores e ao mercado, tomou para si as manchetes econômicas em todo o mundo. O tamanho da dívida da companhia, valor superior a US$ 300 bi, deixou em estado de alerta não apenas aqueles envolvidos diretamente com operações do grupo (responsável por gerar até 3 milhões de empregos indiretos em vários países), mas o mercado econômico como um todo. Afinal, setores fundamentais na economia global, como o da mineração, siderurgia e construção, estão intrinsicamente ligados às atividades da gigante chinesa.
O problema de liquidez da Evergrande, que já oferecia sinais de alerta aos investidores, chegou ao ponto de a empresa não conseguir mais honrar com compromissos no curto prazo. Desde meados de setembro, a empresa passou a vender ativos para captar recursos e a renegociar prazos para pagamentos de juros e dívidas. Entretanto, diante do cenário de insolvência, nem mesmo medidas de intervenção aguardadas pelo mercado, por parte do governo chinês, foram capazes de aplacar a desconfiança e preocupação do sistema financeiro. No último dia 04 de outubro, a Evergrande suspendeu as operações na Bolsa de Hong Kong. Até aquele momento, as ações da companhia registravam queda que beirava os 80%.
Evergrande pode causar “crash” do sistema financeiro?
Para a esmagadora maioria dos analistas econômicos a resposta é não. Há sinais de que a economia real sofra um forte impacto diante da insolvência da imobiliária chinesa, assim como o mercado financeiro. Uma quebra generalizada dos mercados globais, porém, neste momento, é retratada como hipótese altamente improvável, por alguns motivos.
Em primeiro lugar, porque a crise na Evergrande foi um choque, mas não necessariamente uma surpresa. Desde 2020 a companhia oferecia indícios da dificuldade em honrar compromissos que estavam, naquele momento, fixados no médio prazo. Outro ponto a ser considerado são as medidas de intervenção e suporte do governo e órgãos reguladores chineses. Não é esperada uma intervenção total em que o governo atue para recuperar a companhia por completo, mas são cada vez mais fortes os indícios de que deve haver uma ação de resgate, inicialmente a funcionários, fornecedores e credores de menor porte. A compra de ativos da companhia por autoridade chinesas deve auxiliar nesse sentido. Ainda há intervenção governamental para que bancos de crédito facilitem o acesso para compradores de imóveis e o fato de que o Banco Central chinês rapidamente injetou um montante considerável de recursos no sistema financeiro para fornecer fôlego à liquidez nas operações.
Consequências possíveis para o mercado financeiro
A instantânea queda no mercado acionário é a primeira reação diagnosticada diante dos anúncios de possível insolvência. A preocupação é legítima e inevitável, mas as fortes reações em mercados estrangeiros se devem também ao alto nível de globalização dos investimentos que existe atualmente.
A partir da estabilização dos mercados diante do impacto inicial chega o momento em que cada país passa a considerar a relação dos seus respectivos setores produtivos com o ramo imobiliário chinês que, colossal, responde por mais de 20% do PIB do país. Principal parceiro comercial do Brasil, a China é a maior consumidora do minério de ferro brasileiro, entre outros commodities. É preciso acompanhar de perto o quanto este cenário no país asiático afetará essa balança comercial e, além disso, o quanto irá impactar setores imobiliários mundo a fora.
Grandes quedas da história do mercado financeiro
Se por um lado a Evergrande aparenta afetar mais significativamente a economia real do que propriamente criar uma crise sistêmica em mercados financeiros globais, outros “crashes” no passado – de fato – geraram um efeito dominó nas bolsas dos principais mercados mundiais. Vamos relembrar alguns deles?
Lehman Brothers e a crise do subprime
Desencadeada em 2007, a partir da queda abrupta do índice Dow Jones, a chamada “Crise do subprime” projetou diversos bancos para uma condição de insolvência (mais conhecido entre eles, o tradicional Lehman Brothers) o que cascateou para mercados financeiros em todo o mundo. O mote da crise foi a concessão desenfreada de créditos imobiliários, que só foi possível mediante a falta de regulamentação específica para o mecanismo no mercado americano. A falência de importantes agentes do sistema financeiro diante da “bolha” do mercado imobiliário norte-americano foi responsável pela crise econômica de 2007 e 2008 que atingiu em cheio economias europeias.
A crise dos tigres asiáticos
Iniciada na Tailândia e impactante em países do sudeste asiático como Coreia do Sul, Malásia, Singapura, Indonésia e Filipinas, a crise dos chamados “Tigres Asiáticos” desencadeou a partir da política monetária de câmbio flutuante tailandesa que afastou o capital estrangeiro e afetou os países vizinhos justamente quando a região surfava em uma onda de crescimento e desenvolvimento econômico. O FMI interveio para auxiliar e evitar que a crise se alastrasse às esferas sociais de outros países, como a Coreia do Sul, por exemplo. Houve grande preocupação que a crise transbordasse para além das fronteiras asiáticas, o que de fato ocorreu, mas as consequências nos Estados Unidos e Europa acabaram sendo administráveis perto do cenário que se postava no horizonte.
A crise dos emergentes
Também chamado de “Efeito Tequila”, pelo fato de ter iniciado no México, a crise dos países emergentes se consolidou em 1994 e foi provocada majoritariamente pela falta de reservas internacionais do país, fator que causou uma abrupta desvalorização da moeda local. A especulação financeira, por sua vez, acelerou a fuga de capitais, colocando o país em uma crise financeira com rescaldo internacional. Todos os países com maior peso de balança comercial estabelecida com o México foram afetados, entre eles o Brasil, que viu a elevação dos juros às alturas em 1995.
A Grande Depressão
A mais reconhecida crise econômica ocidental se deu nos Estados Unidos a partir de 1929. A chamada Grande Depressão é amplamente retratada em filmes, discos e na cultura pop. Iniciada – de acordo com a teoria mais aceita – por uma crise de superprodução do sistema industrial norte-americano, cuja relação oferta e demanda passou a atuar em desequilíbrio desde o final da 1ª Guerra Mundial, a Grande Depressão foi responsável pelo enxugamento das atividades industriais, queda drástica no PIB, altíssimas taxas de desemprego e severa recessão econômica. Seus efeitos foram sentidos paulatinamente em todo o mundo. Trata-se do maior impacto à condição de vida da população norte-americana jamais visto.
Estratégia antes da ação
A história nos ensinou que a reação sem planejamento, o chamado efeito manada, a ansiedade e a desconfiança desmedida não caminham ao lado de um plano de investimentos sólido. Além do mais, as agências reguladoras, os dispositivos garantidores de crédito e as intervenções de agentes e governos diante de possíveis crises, tornam não impossível, mas mais difícil que uma crise de proporções globais coloque em risco mercados financeiros inteiros e todos os agentes a eles vinculados. Além disso, se por um lado a globalização coloca o capital de todos mais próximo do olho do furacão, ela também garante ao alcance destes bolsos um amplo leque de outras opções de portos-seguros. Para os investidores brasileiros, neste momento, tão ou mais importante do que monitorar de perto a situação do mercado imobiliário chinês, é atentar-se para indicativos e tendências dos próprios setores financeiros e produtivos nacionais. As projeções de PIB e inflação, entre outras sinalizações aguardadas, são bússolas cujo norte é fundamental para dar o direcionamento correto aos investimentos a partir de então.
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