Com a Selic em 6,25% ao ano, a poupança volta a fazer sentido em 2021?
Seja pela tradição, segurança ou facilidade, a poupança é a aplicação preferida dos brasileiros. Segundo a última edição do Raio X do Investidor, o número de investidores que aposta na caderneta superou, em 2020, a soma daqueles que investem em títulos públicos e privados, ações e fundos.
O levantamento, produzido pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), indica, contudo, que o percentual de “poupanceiros” diminuiu cerca de 8% entre 2019 e o ano passado, a primeira queda em quatro anos de pesquisa.
A explicação para esse movimento passa pelo comportamento da taxa básica de juros brasileira no período. Isso porque a poupança paga, atualmente, o equivalente a 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR), zerada há um bom tempo. Caso a taxa ultrapasse os 8,5% ao ano, o rendimento passa a ser de 0,5% ao mês.
Taxa nas mínimas e rendimento negativo
Ao longo do ano passado, a Selic continuou uma trajetória de queda iniciada em meados de 2019 e chegou a ficar em sua mínima histórica, de 2% ao ano, durante cinco meses. Nesse cenário, a caderneta encerrou o ano com retorno real negativo de 2,30% e não teve nenhuma chance contra a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 4,52% em 2020.
Na prática, os percentuais revelam que, quem deixou dinheiro na aplicação, perdeu poder de compra.
Em 2021, porém, a história é bem diferente. Com a alta dos preços se afastando cada vez mais da meta do Banco Central, o Comitê de Política Monetária (Copom) do órgão vem subindo a taxa a cinco meses consecutivos.
Na última reunião, encerrada na quarta-feira (22), os dirigentes elevaram a Selic de 5,25% para 6,25% ao ano e deixaram “contratado” — ou seja, previsto — um novo aumento de um ponto percentual para o próximo encontro. Agora, em meio ao ciclo de alta da taxa básica de juros, a poupança pode voltar a ser uma opção rentável?
Poupança em 2021: oportunidade ou cilada?
Com o resultado do último aumento da Selic, a poupança passou a render cerca de 4,37% ao mês — e, caso o BC cumpra com o prometido na próxima reunião, o valor deve chegar aos 5%. Nada mal para uma aplicação isenta de IR e protegida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), certo?
Para quem se contenta apenas com os percentuais brutos de retorno, certo. Já para quem busca preservar seu patrimônio da mordida da inflação, não é bem assim que a matemática funciona.
Assim como a Selic, quem também está em trajetória de alta é o IPCA. O índice superou mais uma vez as expectativas do mercado em agosto, com avanço de 0,87%, e já acumula crescimento de 5,67% em 2021. Ou seja, quem deixa seu dinheiro na caderneta segue perdendo poder de compra.
E a situação não deve melhorar até dezembro. Segundo os analistas consultados para a última edição do Boletim Focus, do Banco Central, divulgada em 20 de setembro, o IPCA deverá fechar 2021 com alta de 8,35%. Vale destacar que esse já é o 24º aumento na previsão que, há um mês, era de 7,11%.
A taxa básica de juros ainda deve subir mais um pouco, para 8,25% ao ano. Mas, mesmo que chegue a esse valor, a Selic ainda fica abaixo do gatilho que eleva a rentabilidade da poupança e — reforçando que a aplicação rende apenas 70% da taxa nesse patamar — insuficiente para bater o índice oficial de preços do Brasil.
Portanto, a resposta para a pergunta do título é um sonoro “não”. Com as projeções atuais, a caderneta segue incapaz de garantir a manutenção do poder de compra, perde para outras aplicações da renda fixa e variável e não deve fazer parte da carteira dos investidores.
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