22 empresas desistem de planos de IPO em 2022, mas Ibovespa segue em alta. O que explica?
Chegou a 22 o número de empresas que desistiram de abrir o capital na B3, a bolsa brasileira, neste ano.
Ammo Varejo, BMRV, Bluefit, Cantu Store, Captalys, Cencosud, Cerradinho Bioenergia, Claranet, Coty Brasil, CSN Cimentos, Datora, Dori Alimentos, Environmental ESG, Fulwood, ISH Tech, JFL, Madero, Monte Rodovias, Self It, Vero, Verzani & Sandrini e Vix Logística comunicaram à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que não planejam realizar IPO (oferta pública inicial de ações) em 2022.
Em cálculos de bancos de investimento ao Broadcast, do jornal O Estado de S.Paulo, são cerca de R$ 30 bilhões que deixam de ser movimentados com o cancelamento das operações.
Além das empresas citadas acima, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) havia informado um adiamento da mesma transação em 25 de janeiro, em razão de uma “decisão do acionista controlador”, ou seja, do governo estadual do Rio Grande do Sul.
Entretanto, a companhia atravessa um processo de privatização em que o IPO consiste em uma fase para a consolidação da venda da empresa. Com isso, a companhia espera realizar a oferta pública inicial de ações até julho deste ano, antes do início da campanha eleitoral.
Mas o que explica esse movimento tão intenso de desistências ou postergações? A grande maioria das empresas cita “condições adversas do mercado” ou pouco mudam a formulação da justificativa para ““em decorrência da conjuntura atual de mercado…”. Porém, quais são, de fato, os fatores que tanto pressionam o mercado neste ano e afastam a possibilidade de mais empresas abrirem capital?
Ibovespa segue em alta
No ano, o Ibovespa acumula uma valorização de 15,6%. Em um mês, até 30 de março, o índice subia 4,3% e já testa inclusive a volta aos 120 mil pontos. Entretanto, o que tem impulsionado esse desempenho são os preços de commodities no mercado internacional e empresas como Petrobras e Vale, ligadas a produtos como petróleo e minério de ferro, estão beneficiadas pela disparadas dos valores dos mesmos em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia que já dura mais de um mês.
Outras empresas dependentes de commodities como fertilizantes e alumínio, como Fertilizantes Heringer e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) também atravessam por uma forte fase de valorização em seus papéis em razão desse conflito no leste europeu. Mas, domesticamente, as pressões macroeconômicas são outras, mais persistentes e já aparentemente precificadas por agentes de mercado financeiro.
E só no início deste ano, o fluxo de capital estrangeiro na B3 chegou a R$ 81 bilhões. O número resulta da injeção de R$ 1 trilhão e a retirada de R$ 919 bilhões de 3 de janeiro a 21 de março.
Condições macroeconômicas impõem cautela aos investidores
A edição mais recente do Boletim Focus, relatório produzido por economistas consultados pelo Banco Central (BC), aponta que as projeções para a inflação ao fim deste ano já chegam a 6,86% – 11ª semana consecutiva de alta. Há quatro semanas, a média das estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) era de 5,54%.
E a taxa básica de juros, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), foi elevada de 10,75% a 11,75%. Mas, em entrevista ao Canal Livre, da Rede Bandeirantes, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, foi taxativo ao afirmar que mais um acréscimo de 1,0 p.p. seria o suficiente para conter a inflação.
Campos Neto afirmou, na ocasião, que esse deveria ser o patamar máximo, já contratado para a próxima reunião do colegiado. Ele não descartou novos choques nos preços, em razão da guerra entre Rússia e Ucrânia, o que poderia fazer com que o Comitê mudasse de ideia sobre o fim do ciclo de aperto da política monetária. Mas o presidente do BC também sugeriu a hipótese de que a alta das commodities seja capaz de produzir um choque de desaceleração econômica e reequilibrar, por fim, a inflação global.
O Focus ainda traz as projeções de que o crescimento do país, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), deve ser de 0,5% ao fim de 2022, enquanto o dólar deve fechar o ano no patamar de R$ 5,20.
As incertezas diante do cenário para as eleições presidenciais também acirram os ânimos do mercado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (24), com 43% das intenções de voto. Em segundo lugar, o presidente Jair Bolsonaro (PL), pontua 26% – uma polarização confirmada por outros institutos que realizam o mesmo trabalho.
Mas ainda tem empresas que pretendem desafiar o cenário…
Apesar de todas essas dificuldades, duas empresas têm planos de realizar IPO.
Qestra, plataforma de participações e investimentos em companhias de tecnologia de informação, foi a primeira – e até então única – empresa a protocolar pedido de registro para oferta na CVM neste ano. Coordenam a oferta BTG Pactual, Citigroup e Itaú BBA. Há, no momento, ainda outros cinco pedidos em análise da autarquia, dentre eles o solicitado pela Tambasa, terceira maior atacadista do Brasil – a empresa suspendeu a oferta, mas pretende avaliar sua viabilidade ainda no segundo semestre.
O fundador e presidente da registradora de recebíveis Cerc, Marcelo Maziero, em entrevista à Reuters, também confirmou ter planos de IPO para a empresa. Mas o executivo diz querer fechar o ano de 2022 pronto para a operação ser iniciada em 2023. Para isso, a empresa negocia o aporte de US$ 100 milhões de fundos de capital de risco.
Também disseram ter planos para a abertura de capital na bolsa de valores em 2023 as seguintes empresas: Havan, Next, PicPay e Usaflex.
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