Vale a pena investir em ações de empresas que estão em recuperação judicial?
Para abrir o capital na bolsa de valores, as empresas precisam demonstrar que são “saudáveis” financeiramente, por meio de um rigoroso processo regido pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Porém, não necessariamente elas continuam assim eternamente. Não é incomum que, ao longo do tempo, algumas delas tenham dificuldades financeiras por diversos motivos, como problemas de governança ou até conjuntura setorial, e acabem em uma situação chamada “recuperação judicial”.
Um exemplo atual é o grupo de livrarias Saraiva (SLED3), cujas ações chegaram a valer mais de R$ 24 em 2006, mas que agora se encontra na lista das empresas da bolsa em recuperação judicial e perdeu quase todo o seu valor de mercado. Atualmente, os papéis do grupo são negociados a cerca de R$ 0,94. Até o começo dos anos 2000, a empresa era líder no mercado editorial, com lojas físicas em diversos shopping centers. Porém, os ventos mudaram ao longo do tempo e as megastores online (como a Amazon) dominaram o segmento, levando a companhia à beira da falência.
Assim como a livraria, outras empresas listadas na bolsa estão na “UTI”, mas seguem com seus papéis negociados nos pregões da B3. Como isso é possível?
Confira como funciona a recuperação judicial e, mais importante, se vale a pena comprar papéis dessas empresas em dificuldades financeiras.
Uma nova chance
A recuperação judicial é um instrumento concebido com o objetivo de combater a chamada “crise de insolvência” por uma empresa, isto é, quando ela apresenta recursos financeiros ou patrimoniais insuficientes para saldar suas dívidas. Regulamentada pela Lei 11.101/2005, a recuperação tem como objetivo que a empresa seja capaz de entrar em acordo com seus respectivos credores, sob supervisão judicial, e se recupere.
Enquanto o processo ocorre (por no mínimo dois anos, de acordo com a lei), a companhia se mantém ativa, afinal, é por meio da operação que se espera que ela se torne novamente capaz de honrar com os compromissos. Além disso, a empresa também tem a possibilidade de ter suas cobranças suspensas de forma temporária, mediante aprovação judicial do seu planejamento para recuperação. Assim, ela não precisa se preocupar com as dívidas e pode focar em recuperar a lucratividade do negócio.
Mas nos casos de empresas listadas na B3 que entram em recuperação judicial, muda alguma coisa?
A princípio, nada. De acordo com as regras da CVM, as empresas de capital aberto são obrigadas a prestar contas publicamente, por meio de balanços periódicos detalhados. Com isso, fica muito difícil uma empresa listada na B3 “pegar de surpresa” o mercado com um pedido de recuperação, uma vez que, antes de chegar a tal ponto, naturalmente os resultados de seus exercícios financeiros há algum tempo já indicariam um declínio da sua capacidade de honrar compromissos.
Esses resultados também afetam gradualmente o valor das ações da empresa. Conforme sua situação piora, os acionistas começam a se desfazer dos papéis da empresa, derrubando o seu preço e tornando a situação da companhia ainda mais difícil. O pedido recuperação judicial costuma ser a tentativa derradeira de a empresa se levantar, mas ao mesmo tempo também é o momento em que as ações da empresa na bolsa sofrem uma nova onda de desvalorização.
Em alguns casos, como algumas empresas do grupo EBX (do ex-bilionário Eike Batista), a B3 suspende as negociações dos papéis, o que é praticamente um sinal de que a “morte” da companhia é certa. Porém, na maioria dos casos, como no da Saraiva, os papéis continuam disponíveis para negociação. Compra quem quer (e quem pode) se arriscar.
Quais empresas da bolsa estão em recuperação judicial atualmente:
Atualmente, são 18 as companhias listadas na B3 que atravessam o processo de recuperação. São elas:
- Bardella (equipamentos industriais);
- Eternit (telhas e sistemas construtivos);
- Fertilizantes Heringer;
- Gradiente/ IGB (eletroeletrônicos);
- Hotéis Othon;
- Inepar (construção de equipamentos de energia);
- João Fortes Engenharia;
- Lupatech (indústria de equipamentos para o setor petrolífero);
- Oi (telecomunicações);
- PDG (setor imobiliário);
- Pomi Frutas (agrícola);
- Renova Energia (geração de energia);
- Rodovias do Tietê (concessionária);
- Saraiva (livrarias);
- Sansuy (indústria de plásticos);
- Tecnosolo (engenharia);
- Teka (fabricante de roupas de cama, mesa e banho);
- Wetzel (soluções para instalações elétricas).
Existe alguma vantagem em adquirir papéis dessas empresas?
O principal fator de atração quando falamos em adquirir ações de uma companhia em meio ao processo de recuperação é o baixo preço (muitas vezes, frações do valor praticado em momentos passados) e possibilidade de grande valorização. Imagine comprar ações da Saraiva por 94 centavos e a empresa voltar a crescer aos patamares de décadas passadas, voltando a valer mais de R$ 20 por ação? R$ 10 mil investidos em um cenário desses se tornariam R$ 200 mil. Quem não gostaria de um resultado desses?
Contudo, como se pode imaginar, o risco de um investimento como esse é imenso. É possível “diminuir” o risco de alguma forma? Com conhecimento, sim!
Uma análise fundamentalista da empresa pode mostrar seu status atual e possibilidades de valorização. Para isso, o investidor precisa analisar em conjunto uma série de dados, como o status do pedido de recuperação da companhia. Ele já foi homologado? Quais são os resultados dos últimos exercícios financeiros após a homologação do pedido? Quem são os principais credores desta companhia? Há manifestações públicas destes credores? Os balancetes trimestrais indicam recuperação do negócio?
As respostas para essas perguntas podem indicar se pode valer a pena investir na recuperação da empresa. Também é importante considerar nesse contexto que a chamada nova Lei da Falência, que entrou em vigor em dezembro de 2020, surgiu com a perspectiva de dobrar a taxa de sucesso de recuperação das companhias dentro de um período de quatro anos. No entanto, não existe garantia de sucesso.
Investimento indicado para experientes
Por isso, negócios de extremo risco como esses devem ser realizados apenas por investidores experientes e com perfil arrojado, que têm uma carteira sólida e diversificada, com capacidade financeira para absorver o impacto de um eventual prejuízo.
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