Fed: conheça o banco central dos EUA e entenda como ele influencia a economia brasileira
No dia 4 de maio, os juros norte-americanos foram elevados em 0,5 ponto percentual, de 0,25% para o intervalo entre 0,75% – 1%. Para um leigo, o ajuste pode parecer irrelevante, mas essa simples elevação provocou fortes reações no mercado dos EUA e em todo o mundo.
Quem se responsabilizou pela decisão foi o FOMC (sigla em inglês para Comitê Federal de Mercado Aberto), um dos muitos colegiados que compõem o Fed (Federal Reserve Board), o banco central dos Estados Unidos, atualmente presidido por Jerome Powell.
Neste texto, vamos conhecer um pouco da história e a influência do Federal Reserve, assim como os impactos de suas decisões sobre a economia do Brasil e do mundo.
História, formação e missão
O Federal Reserve Board, que, em português, significa Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos, foi criado em 23 de dezembro de 1913. Ele foi fruto de estudos que criaram um projeto de lei que criava um banco central para o país, a exemplo das instituições de mesmo modelo na Europa.
Até então, a administração centralizada das finanças norte-americanas já tinha sido tocada por dois primeiros bancos (First Bank, de 1791 a 1811, e Second Bank, de 1816 a 1836), o Livre Banco Época (1837-1862) e um consórcio Bancos Nacionais (1863-1913).
A criação do Federal Reserve Act., liderada pelo republicano Nelson Aldrich, chefe da Comissão Monetária Nacional bipartidária, foi responsável por definir a trajetória das políticas monetárias e todo o complexo bancário a exemplo do que o Banco Central do Brasil faz.
Porém, sua estrutura não se parece com a nossa autoridade monetária.
Sete membros indicados pelo presidente e aprovados pelo Senado formam o Board of Governors, inclusive o presidente da instituição. Portanto, o Federal Reserve atua com independência, mas suas indicações dependem de vontade política.
Há ainda os Federal Reserve Banks localizados em algumas das maiores cidades dos EUA. São elas: Atlanta, Boston, Chicago, Dallas, Kansas City, Minneapolis, New York, Philadelphia, Richmond, San Francisco, St. Louis e Washington D.C, com seus representantes regionais.
Por fim, formam o FOMC, que mencionamos acima, as dezenove cabeças do Board of Governors e do Federal Reserve Banks.
Suas declarações e decisões sinalizam a trajetória fiscal do país, a respeito do processo inflacionário e as oscilações da taxa de juros, além de outras funções como a elaboração do Beige Book – o “Livro Bege” – (relatório sobre a situação econômica norte-americana) e a instituição da política monetária, que existe não apenas sobre os empréstimos, mas também mediante a compra ou venda de títulos.
Todas essas missões visam a garantia da flexibilidade e da estabilidade do país que concentra a maior economia e o mercado financeiro mais maduro dentre todos os outros, com independência do governo e de outras instituições.
Como o Fed nos influencia?
Nos últimos dois anos, vimos alguns exemplos mais notáveis sobre a gestão do Fed e o impacto de suas decisões ao redor do mundo.
Com a pandemia de Covid-19, por exemplo, a autoridade monetária zerou os juros do país como medida de choque, em março de 2020 – início da crise sanitária -, de 1% e 1,25% para um intervalo compreendido entre 0 e 0,25% e compras de ativos na ordem de US$ 700 bilhões.
No dia seguinte, o Brasil já sentia os efeitos da disparada do dólar, e havia sinalizado que iniciaria medidas como a renegociação de operações de créditos de empresas e de famílias com boa capacidade financeira e que manteria operações de crédito regulares e adimplentes em curso, com expansão da “capacidade de utilização de capital dos bancos a fim de que estes tenham melhores condições para realizar as eventuais renegociações no âmbito da primeira medida e de manter o fluxo de concessão de crédito”.
Agora, mais recentemente, com o aperto monetário anunciado por Jerome Powell, após o Federal Reserve anunciar a retirada gradual de estímulos à política norte-americana, foi necessário lidar com os efeitos da inflação que atingem o país em seu patamar histórico dentro de 40 anos. A guerra entre Rússia e Ucrânia também contribui para esse movimento difícil.
Inclusive, Powell anunciou que a instituição vai determinar altas de juros em 2022 e 2023, sob magnitudes ainda desconhecidas, e a redução de compra de títulos deve retirar a liquidez do mercado.
No Brasil, em reflexo a essas sinalizações, a taxa básica de juros Selic foi elevada a 12,75% a.a., com a possibilidade de alcançar o patamar de 13,25% a.a. na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em junho, enquanto o mercado não antevê alívio nos preços de commodities no mercado internacional, entre outros fatores como a perda do poder de compra, os índices de desemprego e a dificuldade de obtenção de crédito enquanto o consumo encarece às vésperas das eleições presidenciais.